vazio, frio, encharcado por um rio
que passou e levou tudo
chamei-o mas não me ouviu
fico agora, aqui, mudo
Olhos quentes como o fogo
O quanto os vou lembrar
Olho-os quase que num jogo
De quando me vão fitar
O teu riso de menina
Que gosto de provocar
E a tua mão pequenina
Que sonho poder segurar
Corpo cor de areia
Tocada pela água do mar
Salpicado de pedrinhas escuras
E pormenores pra recordar
Poderia continuar
Acredita querida Milita
Em livros pra registar
Que és incrivelmente bonita
Perdi o ar e o céu,
sem ter para onde olhar
Não tinha terra nem flores,
ou ramos onde agarrar
Tudo escuro e sem estrelas
Uma noite sem final
Era fria e vazia
Estava branco de cal
Longe uma bicicleta
Um pouco acelerada
Estende-me a mão e segreda
Levo-te à madrugada
Subo a custo, ao colo
Para esta bi-lugar
Pedalo mesmo muito pouco
Custa-me recomeçar
Aos poucos ganho força
Pálpebras a descolar
Levanto o queixo e os ombros
Começo a enxergar
Luz ténue agora d'ouro
Sol-sorriso que me aquece
Campos verdes são o caminho
E tudo mais se esquece
Fico meio avermelhado
quando tu estás ao meu lado,
não há muito que possa fazer.
Posso dizer que é rosácea,
vais perceber que é falácia,
que é só por te estar a ver.
A tua presença dá-me cor,
sobe-me à cara um rubor,
o melhor tipo de calor. Descansa,
não lhe vou chamar de amor.
Mas não te vou mentir,
este desejo é bem maior.
Gostava de te descobrir,
de te saber de cor.