quarta-feira, 27 de maio de 2020

Este calor

Por que tiveste vir?

Não devias ter aparecido, esperava-te mas não assim. Inverto-me no sofá para não me olhares com essa cara de sol, mas anseio por cegar.

Os estores deixo-os abertos o dia todo, cortinados e tudo às claras, depois à noite abro gretinhas para que te vás e os bichos voltem. 

Só me deito após um duche frio, mesmo que ainda cá fiques e eu acabe a rebolar neste estio.

sábado, 16 de maio de 2020

Não faço nada há dois meses. Escolhi trazer-me para esta ilha deserta, para fugir do que já não me larga, e agora já não sai nada. Já nem sei nada, estar rodeado de água é uma seca. E não gosto de areia, sempre a meter-se onde não deve, cola, não descola e arranha.

De vez em quando passa um avião. Escrevo-lhe com pedras e conchinhas e ele ri-se em morse, com espelhos e luzes. Mas não pára aqui.

Tenho-me entretido assim, a rabiscar troncos de palmeiras, onde posso decorar com corações e estrelas todas as palavras que eu quiser. Uma salva de palmas para mim! Porque são palmeiras! Ah ah ah